Brinco com os
ponteiros, transcendo a todo tempo, retardo o crescimento. Reduzo
os problemas a pó, passo por cima do incômodo, comando a situação. Minha
felicidade é mais bonita que utopia, mais divertida que carnaval. Tenho o final
do arco-íris aos meus pés, o pote de ouro destrancado. Minha felicidade é muito
mais que amor à primeira vista. É o amor sem vista mesmo, é entrega de olho
fechado. Minha felicidade é produto, adquiri ao nascer, pago por ele todo santo
e ateu dia. Veio com controle remoto individual e intransferível, troco de
canal quando me dá tédio. Faço a montanha andar, a pedra amolecer, mudo a
direção do vento. Ligo a roda gingante em potência máxima. Deixo o final para o
começo e começo de novo, mas sem final. Me engano conscientemente de que o mal
não existe. Vivo um personagem principal de desenho animado. Planto, colho e
descasco batata por opção. Sou feliz porque tenho gastrite nervosa, status e
sou rica, só que não. Sou feliz porque acabo com qualquer possibilidade de
inveja, de olho gordo, de ter que me benzer no domingo. Sou feliz porque aceito
que a vida não é fácil mesmo, deixo assim. Não me puno toda hora pelos erros
cometidos, não me pressiono, não tenho que ser alguém importante. Mantenho a
consciência limpa, dou festa nela todo dia. Transformo o espaço, melhoro o
ambiente, me autopromovo. Falo de igual para igual com crianças de quatro anos.
Esqueço a regra, tenho preguiça, crio uma nova língua. O nada é suficiente pra
mim, preenche meu vazio, me entope. Como a minha própria comida, erro no
tempero, fico satisfeita. Brindo à felicidade em copo americano e comigo mesma.
Aceito a morte, transformo a saudade em algo saudável, crio o paraíso, acredito
em extraterrestres. Me adapto a mim mesma e me invento, reinvento. Sou humana,
sou animal, sou natural. Ninguém me trouxe a felicidade, fui até ela, e dancei
com ela, a pedi em casamento. Danço com ela até hoje. Ela está em mim, eu estou
nela, sou ela. E a sua felicidade, quem é? - [por minha amiga, Gabriela Magalhães]
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